Ainda que a IA (Inteligência Artificial) seja uma das principais apostas tecnológicas para o futuro, algumas aplicações que contribuem para o desenvolvimento humano já são realidade. Este é o caso do projeto Innocens (sigla em inglês para Melhorando o Resultado Neonatal com um Sistema de Notificação Clínica Precoce), que usa a tecnologia para proteger recém-nascidos da sepse.
Trata-se de uma infecção no sangue que pode ser fatal, sobretudo aqueles cujo sistema imunológico está comprometido ou ainda não está totalmente desenvolvido, como nos bebês prematuros. Nesses casos, iniciar o tratamento com antibióticos no timing correto é vital – um quinto dos recém-nascidos com menos de 1,5 kg morrem devido a complicações da sepse.
Como surgiu a ideia
O projeto Innocens nasceu a partir da frustração de David Van Laere, um neonatologista do Hospital Universitário da Antuérpia, na Bélgica. Apesar de acompanhar há mais de uma década tendências e padrões entre sinais vitais e complicações relacionadas ao parto prematuro, não era possível saber quais eram os fatores de riscos e, consequentemente, como prever e combater o início da infecção.
Durante passeios de bicicleta semanais com um amigo, que é executivo da IBM com experiência em IA e análises preditivas, surgiu a ideia de desenvolver uma ferramenta que permitisse prever casos de sepse em bebês prematuros. Então, em parceria com a empresa de tecnologia, o médico desenvolveu um projeto de pesquisa envolvendo IA e computação de ponta.
Como funciona
Um dos desafios da criação foi determinar a precisão para criar um sistema preditivo que pudesse ser facilmente incorporado na rotina dos hospitais. Para isso, foi necessário treinar os modelos de aprendizado do equipamento para detectar precisamente padrões sutis de sepse minimizando alarmes falsos.
As análises fornecidas pela IA permitem que os médicos tomem decisões melhores e mais oportunas, uma vez que a tecnologia mostra quais recém-nascidos têm risco de complicações causadas pela sepse, viabilizando uma intervenção mais rápida e aumentando as chances de sucesso do tratamento.
Para proteger os dados e a privacidade dos pacientes, os equipamentos são executados localmente nos firewalls do hospital. Além disso, todos os ajustes são feitos em nuvem para evitar a exposição de informações.
Resultados
Utilizado no Hospital Universitário da Antuérpia, o sistema tem 75% de precisão na detecção de sepse grave e gera menos de um alarme falso por semana, segundo o Van Laere. Outro ponto é que o modelo possui uma base de atendimento contínua, que fornece subsídios para os profissionais prescreverem o melhor tratamento para cada bebê.
A expectativa é que essa pesquisa sirva como base para o uso de IA em outras soluções para melhorar os resultados de recém-nascidos, sobretudo os prematuros. O modelo pode ser o pontapé para detectar outras complicações, como lesões cerebrais, doenças pulmonares crônicas e retinopatia.